A cor Púrpura
A película é baseada no romance epistolar da premiada escritora afro-americana, Alice Walter. O filme teve como diretor Steven Spielberg, Spielberg trocou o sonho pela realidade, as famílias dos abastados subúrbios da classe média alta das grandes cidades por um punhado de pessoas pobres, infelizes, oprimidas, os super-heróis à la Indiana Jones por pessoas simples, humildes, que apanham e levam desaforo para casa. O mago, desta vez, trocou o sonho pelo pesadelo de quem é – como diz um de seus perrsonagens – preto, pobre, feio e mulher.
Além de contar com o talento da até então estreante Oprah Winfrey, hoje firmada como a celebridade feminina mais influente dos Estados Unidos da América. O papel principal contou com a participação de uma atriz pouco conhecida até aquele momento, Whoopi Goldberg que foi indicada juntamente com sua companheira de filmagens ao Oscar de melhor atriz e melhor atriz coadjuvante, respectivamente. O filme ainda recebeu onze indicações ao Oscar e Whoopi ainda foi premiada com o Globo de Ouro de melhor atriz.
As verdades adultas começam muito cedo na vida de Celie, a personagem principal da história. Aos 14 anos, ela engravida pela segunda vez, de seu próprio padrasto, na zona rural da Georgia, no sudeste americano, no começo do século XX. Não vê as crianças, no entanto – o padrasto as dá para um casal que não pode ter filhos. Ainda aos 14 anos, Celie (interpretada, adolescente, por Desreta Jackson, e, adulta, por Whoopi Goldberg) é entregue pelo padrasto a um fazendeiro vizinho, Albert (Danny Glover), que ela chama apenas de Mister (e os letreiros do filme, no Brasil, assim como a tradução do livro, chamam de Sinhô); ele havia ficado viúvo, e precisava de uma mulher para limpar a casa, cozinhar, fazer-lhe a barba, cuidar dos seus três filhos e, eventualmente, abrir as pernas, enquanto ele praticamente a violentava sexualmente, olhando para o retrato, ao lado da cama, da mulher que é a paixão de sua vida, Shug Avery (Margaret Avery), uma cantora de cabaré.
Como se vê, Celie é o retrato, em tons berrantes, caricaturais, do ser humano oprimido. A mulher é o negro do mundo, escreveu John Lennon. A Celie criada pela feminista Alice Walker é isso elevado à enésima potência, é a escrava mais escrava que se poderia conceber, a escrava de um homem brutal que por sua vez é oprimido pelo pai; Celie, como o próprio Albet lhe diz, é, em suma, preta, pobre, feia e mulher, em uma sociedade extremamente machista, racista, classista.
Celie tem um único amor na vida: Nettie, sua irmã mais nova, mais bonita, mais atraente, mais estudada (Celie é analfabeta; Nettie é quem a ensina a escrever). Nettie (Akosua Busia) foge do padrasto opressor e pede para morar na casa do homem que oprime sua irmã. Ele tenta seduzi-la, ela reage, ele a manda embora; Nettie vai embora gritando para a irmã que escreverá sempre para ela. Mister, o Sinhô, naturalmente, proíbe Celie de chegar perto da caixinha do correio.
Isso acontece no de 1909. A história acompanhará a trajetória desses tristes personagens ao longo dos 34 anos seguintes, até 1943. Celie e os filhos de Albert crescem, igualmente tiranizados pelo Sinhô ou Senhor. O mais velho dos filhos, Harpo (Willard Pugh), casa-se com Sofia (Oprah Winfrey), uma anti-Celie, uma mulher firme, corajosa, que não aceita ser escrava de pai ou de marido.
Celie começa seu movimento para fora da passividade escrava através de seu encontro com a amante de Albert, a cantora Sugh Avery – ou, nos letreiros brasileiros, Doci Avery (Shug é corruptela de sugar, açúcar). Shug Avery é o que Celie jamais pôde ser: bonita, atraente, sensual, alegre e sobretudo livre. Embora existam diferenças entre as personagens durante o desenrolar da história, acabam tornando-se amigas e Shug consegue enxergar a beleza interior que existe naquela mulher maltrada por diversos preconceitos sociais, vitimizada por uma vida de abusos.
Steven Spielberg diz que não quis fazer um filme sobre negros, mas sobre pessoas. “Eu decidi, desde o início do projeto, que essa não era uma história sobre uma raça ou cor ou situação social, e sim uma história sobre a humanidade. As fraquezas, as dificuldades e as alegrias dessas pessoas poderiam ter sido – e, de fato, foram – as de cada um de nós.” O que torna a película recheada de emoções fortes,olhares profundos e de momentos de silêncio que falam por si só. O filme não conquistou os grandes públicos mas definitivamente está marcado na história do cinema como uma produção clássica.
Quando o roteiro de A Cor Púrpura ficou pronto, Spielberg mandou seu diretor de arte, J. Michael Riva, procurar um lugar para as filmagens, em cinco Estados – Mississipi, Georgia, Alabama, Carolina do Norte e Tennessee. Riva fotografou dezenas de lugares, e submeteu o resultado de suas pesquisas ao diretor. Spielberg escolheu uma fazenda perto da cidade de Wadesboro, na Carolina do Norte – o Estado é vizinho à Georgia, onde se passa a ação -, que foi alugada por seis meses. O diretor ficou fascinado com a beleza do lugar quando foi conhecê-lo. Sobretudo, gostou da topografia: era um lugar cheio de pequenas colinas. “É um desastre filmar em lugares planos, porque não se tem onde pôr a câmara, exceto numa grua”, ensina.
A uma pequena distância da sede da fazenda – que, nas filmagens, serviu como a casa de Albert -, a produção construiu, seguindo a orientação do diretor de arte Riva, uma segunda casa, a de Harpo, filho de Albert, e um jook joint – um cabaré rural, como os que havia nas primeiras décadas do século no Sul dos Estados Unidos, mais uma vez indicando os custumes de uma sociedade vitimizada pela sua própria ignorância.
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