Homem e Cultura: um paralelo antropológico
Homem e Cultra caminham e progridem juntos, logo não podem ser dissociados.
(Pelo dicionário brasileiro Globo) Cultura se aplica ao ato, efeito, arte ou modo de cultivar; estado de quem tem desenvolvimento intelectual,conjunto de conhecimentos,civilização.ar
O homem por sua vez, é um animal racional dotado de inteligência e por esta possui o dom da palavra. Comprovando assim, que um se encontra intimamente relacionado ao outro.
Foi ela, a cultura, que contribuíu para a sobrevivência do homem, ajudando-o a superar seus limites, e também a adaptar-se ao meio em que habita, o qual vive em constante processo de transformação .
Consequentemente a cultura também se modifica, pois nenhuma ordem social se baseia em verdades inativas, uma alteração no meio ambiente acabava provocando uma mudanção no comportamento humano.
Tal acontecimento não é resultado de um processo individual, se da a partir do acúmulo contínuo de conhecimentos, leis, costumes,que são passados hereditariamente
Existem diversas sociedades de inúmeros conceitos, logo existem diversos tipos de grupos culturais,desta maneira os acontecimentos ao redor do mundo podem ser interpretados de formas distintas. Por isso mesmo não é possível compreender um, sem depender da existência do outro.
Segundo o autor Edward Tylor(1871), cultura engloba todo o complexo que inclui conhecimentos,crenças,arte,moral,leis,costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro ativo de uma sociedade. Tal pensamento embora tenha sido formulado por Edward, já apresentava sua notoriedade desde os estudos de Jonh Locke em seu Ensai o acerca do Conhecimento Humano (1690)
O conceito de Tylor desprendeu-se completamente da conceituação de cultura
a patir de qualquer influência genética, provando sua forma de sobrevivência até os dias de hoje, quando se pensa em definição de "cultura". Este termo pode ser facilmente relacionado a grande parte das teorias antropológicas. Dentre estas podemos dar destaque ao estruturalismo.
Os estudos estruturais da antropologia iniciaram depois da Segunda Grande Guerra e seu principal representante esteve presente na figura do antropológo belga, Claude Lévi- Strauss.
Claude tomou como base de análise os mitos das sociedades e inspirando-se na Linguística Estruturalista, defendia fortemente a existência de pares de oposição, que regiam o espírito humano, sendo postados como peças a mais em um conjuntos de diversas relações e não individualmente. Tais relações são capazes de suprir o que é essencial para que se forme a cultura na mente humana.
Lévi Strauss estudou os fenômenos culturais de várias famílias e tribos para chegar a tal ponto de vista. A realidade é fornecida pelas relações sociais e pela cultura individual de cada povo, que gera a visão do mundo
Strauss diz que:
" Se a nossa demonstração é válida não há nem pode haver uma civilização mundial no seu sentido absoluto,porque civilização implica na coexistência de culturas que oferecem o máximo de diversidade entre elas, consistindo mesmo nesta coexistência. A civilização mundial não será outra coisa que a coalizão de culturas em escala mundial, preservando cada uma delas a sua originalidade" (1961)
A antopologia estrutural pode ser compreendida, então, como uma tentativa de entedimento da história e do funcionamento da sociedade. Este entedimento provém da compreensão cultural.
Este conceito foi devidamente abordado no filme " A Balada de Narayama", película japonesa dirigida por Shohei Imamura. A trama narra o cotidiano de algumas pessoas que organizavam-se em aldeias ao norte do Japão, há mais de cem anos, mostrando as tradições e os conflitos humanos que cercavam aquele povo.
Devido as barreiras geográficas e á esterilidade do solo, a comida na região é escassa não sendo suficiente para um número maior de habitantes na aldeia, por isso a morte é encarada com tanta regularidade, já que faz parte da cultura deles a ideia de que uns precisam morrer para dar lugar aos outros.
A naturalidade da morte é identificada a partir do tema central da história. Ao completarem setenta anos, os idosos devem retirar-se da aldeia para aguardar pela morte sozinhos no monte Narayama, o qual acreditam ser habitado por deuses.
O filme mostra a trajetória de Orin, que embora possua uma boa sáude ( representada pelos seus 28 dentes), está próxima de completar setenta anos e assim, prepara-se para deixar a família na qual é a matriarca. Demonstrando desta vez o poder exercido pela cultura sobre as vidas. Essa preparação inclui arranjar uma nova mulher para seu filho mais velho. Esta, além de servir para suprir a ausência da mãe, serve também para representar a nova autoridade da família. Pois, por ser uma sociedade divida por gêneros, onde o homem tem a função de trabalhar na produção, a mulher por sua vez, responsabiliza-se pelas taferas domésticas e tem o poder de decisão.
Outro exemplo que mostra a naturalidade da morte e a importância da mulher está no fato de ao nascer uma nova criança, caso seja menino é jogado ao rio, porém se for menina, pode ser negociada e vendida. Isso mostra também que os pais nao criam laços afetivos com seus filhos recém-nascidos,pois matá-los ou vendê-los é uma alternativa de ter menos uma boca para alimentar.
Na comunidade, e união entre homem e mulher é vista maneira diferenciada da nossa, como o exemplo da viúva de outra aldeia que integra-se a família de Orin apenas por intermédio do vendedor de sal, e ao chegar, mesmo sendo uma estranha é bem acolhida e tratada como se fosse da família. A fidelidade e a honra feminina também são vistas de outra maneira, para eles, a mulher pode ser submetida a fazer sexo com todos da tribo como forma de redimir o marido de algum erro.
Após ter encontrado uma nova representação femina, Orin começa a passar-lhe seus ensinamentos, e por estar segura que vai ter alguém para substituí-la, a matriarca arranca seus próprios dentes, para sim, demonstrar-se mais debilitada. Demonstrando mais uma vez que os valores individuais não são levados em consideração, o coletivo acaba se sobressaindo.
Baseado na ideia que os valores de um povo alternam-se de acordo com suas necessidades, justifica-se toda a preocupação deles em relação á comida
( plantação, colheita, estoque) e a pratica de atos bárbaros( na concepção da nossa sociedade) por conta do alimento. No filme, por exemplo, ao ser pega furtando alimento, a nora de Orin apanha severamente, mas o que realmente nos choca ao observá-los é ,quando são capazes de enterrar toda uma família ainda viva por causa do furto de comida.
O filme também causa uma reflexão a cerca das vontades pessoais e o confronto com as tradições de uma sociedade. É visível que o filho mais velho não quer desprender-se da mãe para deixá-la morrer sozinha, porém, para não quebrar a tradição ele deve passar por cima de suas próprias vontades. Outro caso que representa esse confronto é o do marido de Orin, por não querer separar-se de sua mãe e levá-la a Narayama, foi assassinado pelo seu próprio filho, acusado de romper com a tradição por estar frágil espiritualmente.
Concluída suas obrigações, é chegada a hora de Orin retira-se ao monte. A família faz uma espécie de ritual de despedida, onde não demonstram estar abalados com a saída da matriarca,
Ao chegar em Narayama e ao ver todos aqueles restos mortais, o primogênito pergunta-se se realmente há um deus esperando por aqueles que ali vão descansar. Ressalta-se assim uma dúvida presente em qualquer cultura, a qualquer época: a existência ou não de um ser superior e se há realmente um lugar para descansar após a morte. Mostrando que os indivíduos caminham de acordo com as regras impostas por sua sociedade, sendo elas benéficas ou não para o bem- estar próprio do homem.
Por essa e outras situações, é possível enquadrar "A Balada de Narayama" como uma verdadeira aula antropológica. O filme nos transporta a uma reflexão a respeito do homem como conceito antropológico; o homem complemente e predominantemente cultural. O homem cujas ações são regidas pela força cultural; aquela que é construída desde o seu nascimento até a sua morte.
REFERÊNCIAS
- Dicionário brasileiro Globo
-LARAIA, ROQUE DE BARROS- Cultura: um conceito antropológico-17ed- Rio de Janeiro,2004.
-Lévi-Strauss, Claude - "Antropologia Estrutural" (RJ, Tempo Brasileiro, 1970)
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