domingo, 27 de fevereiro de 2011

Volta

"Onde moram as respostas?
Ando procurando em vão, pelo pedaço da minha alma que fugiu e parece se esconder cada vez melhor.
 Pensei que era o começo de uma grande caminhada, mas acabei tropessando nas minhas pegadas.
Minha lucidez abandonou o barco, afogou-se em um copo de whisky. Agora eu ando pela rua, arquitetando sonhos,quanto mais eu penso, menos sei."

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Cinema

A cor Púrpura

A película é baseada no romance epistolar da premiada escritora afro-americana, Alice Walter. O filme teve como diretor Steven Spielberg,
Spielberg trocou o sonho pela realidade, as famílias dos abastados subúrbios da classe média alta das grandes cidades por um punhado de pessoas pobres, infelizes, oprimidas, os super-heróis à la Indiana Jones por pessoas simples, humildes, que apanham e levam desaforo para casa. O mago, desta vez, trocou o sonho pelo pesadelo de quem é – como diz um de seus perrsonagens – preto, pobre, feio e mulher.
Além de contar com o talento da até então estreante Oprah Winfrey, hoje firmada como a celebridade feminina mais influente dos Estados Unidos da América. O papel principal contou com a participação de uma atriz pouco conhecida até aquele momento, Whoopi Goldberg que foi indicada juntamente com sua companheira de filmagens ao Oscar de melhor atriz e melhor atriz coadjuvante, respectivamente. O filme ainda recebeu  onze indicações ao Oscar e Whoopi ainda foi premiada com o Globo de Ouro de melhor atriz.
As verdades adultas começam muito cedo na vida de Celie, a personagem principal da história. Aos 14 anos, ela engravida pela segunda vez, de seu próprio padrasto, na zona rural da Georgia, no sudeste americano, no começo do século
XX. Não vê as crianças, no entanto – o padrasto as dá para um casal que não pode ter filhos. Ainda aos 14 anos, Celie (interpretada, adolescente, por Desreta Jackson, e, adulta, por Whoopi Goldberg) é entregue pelo padrasto a um fazendeiro vizinho, Albert (Danny Glover), que ela chama apenas de Mister (e os letreiros do filme, no Brasil, assim como a tradução do livro, chamam de Sinhô); ele havia ficado viúvo, e precisava de uma mulher para limpar a casa, cozinhar, fazer-lhe a barba, cuidar dos seus três filhos e, eventualmente, abrir as pernas, enquanto ele praticamente a violentava sexualmente, olhando para o retrato, ao lado da cama, da mulher que é a paixão de sua vida, Shug Avery (Margaret Avery), uma cantora de cabaré.
Como se vê, Celie é o retrato, em tons berrantes, caricaturais, do ser humano oprimido. A mulher é o negro do mundo, escreveu John Lennon. A Celie criada pela feminista Alice Walker é isso elevado à enésima potência, é a escrava mais escrava que se poderia conceber, a escrava de um homem brutal que por sua vez é oprimido pelo pai; Celie, como o próprio Albet lhe diz, é, em suma, preta, pobre, feia e mulher, em uma sociedade extremamente machista, racista, classista.
Celie tem um único amor na vida: Nettie, sua irmã mais nova, mais bonita, mais atraente, mais estudada (Celie é analfabeta; Nettie é quem a ensina a escrever). Nettie (Akosua Busia) foge do padrasto opressor e pede para morar na casa do homem que oprime sua irmã. Ele tenta seduzi-la, ela reage, ele a manda embora; Nettie vai embora gritando para a irmã que escreverá sempre para ela. Mister, o Sinhô, naturalmente, proíbe Celie de chegar perto da caixinha do correio.


Isso acontece no de 1909. A história acompanhará a trajetória desses tristes personagens ao longo dos 34 anos seguintes, até 1943. Celie e os filhos de Albert crescem, igualmente tiranizados pelo Sinhô ou Senhor. O mais velho dos filhos, Harpo (Willard Pugh), casa-se com Sofia (Oprah Winfrey), uma anti-Celie, uma mulher firme, corajosa, que não aceita ser escrava de pai ou de marido.
Celie começa seu movimento para fora da passividade escrava através de seu encontro com a amante de Albert, a cantora Sugh Avery – ou, nos letreiros brasileiros, Doci Avery (Shug é corruptela de sugar, açúcar). Shug Avery é o que Celie jamais pôde ser: bonita, atraente, sensual, alegre e sobretudo livre. Embora existam diferenças entre as personagens durante o desenrolar da história, acabam tornando-se amigas e Shug consegue enxergar a beleza interior que existe naquela mulher maltrada por diversos preconceitos sociais, vitimizada por uma vida de abusos.


Steven Spielberg diz que não quis fazer um filme sobre negros, mas sobre pessoas. “Eu decidi, desde o início do projeto, que essa não era uma história sobre uma raça ou cor ou situação social, e sim uma história sobre a humanidade. As fraquezas, as dificuldades e as alegrias dessas pessoas poderiam ter sido – e, de fato, foram – as de cada um de nós.”  O que torna a película recheada de emoções fortes,olhares profundos e de momentos de silêncio que falam por si só.  O filme não conquistou os grandes públicos mas definitivamente está marcado na história do cinema como uma produção clássica.


Quando o roteiro de A Cor Púrpura ficou pronto, Spielberg mandou seu diretor de arte, J. Michael Riva, procurar um lugar para as filmagens, em cinco Estados – Mississipi, Georgia, Alabama, Carolina do Norte e Tennessee. Riva fotografou dezenas de lugares, e submeteu o resultado de suas pesquisas ao diretor. Spielberg escolheu uma fazenda perto da cidade de Wadesboro, na Carolina do Norte – o Estado é vizinho à Georgia, onde se passa a ação -, que foi alugada por seis meses. O diretor ficou fascinado com a beleza do lugar quando foi conhecê-lo. Sobretudo, gostou da topografia: era um lugar cheio de pequenas colinas. “É um desastre filmar em lugares planos, porque não se tem onde pôr a câmara, exceto numa grua”, ensina.


A uma pequena distância da sede da fazenda – que, nas filmagens, serviu como a casa de Albert -, a produção construiu, seguindo a orientação do diretor de arte Riva, uma segunda casa, a de Harpo, filho de Albert, e um jook joint – um cabaré rural, como os que havia nas primeiras décadas do século no Sul dos Estados Unidos, mais uma vez indicando os custumes de uma sociedade vitimizada pela sua própria ignorância.



quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Antropologia

 Homem e Cultura: um paralelo antropológico

Homem e Cultra caminham e progridem juntos, logo não podem ser dissociados.
(Pelo dicionário brasileiro Globo) Cultura se aplica ao ato, efeito, arte ou modo de cultivar; estado de quem tem desenvolvimento intelectual,conjunto de conhecimentos,civilização.ar
O homem por sua vez, é um animal racional dotado de inteligência e por esta possui o dom da palavra. Comprovando assim, que um se encontra intimamente relacionado ao outro.

Foi ela, a cultura, que contribuíu para a sobrevivência do homem, ajudando-o a superar seus limites, e também a adaptar-se ao meio em que habita, o qual vive em constante processo de transformação .
 Consequentemente a cultura também se modifica, pois nenhuma ordem social se baseia em verdades inativas, uma alteração no meio ambiente acabava provocando uma mudanção no comportamento humano.

Tal acontecimento não é resultado de um processo individual, se da a partir do acúmulo contínuo de conhecimentos, leis, costumes,que são passados hereditariamente
Existem diversas sociedades de inúmeros conceitos, logo existem diversos tipos de grupos culturais,desta maneira os acontecimentos ao redor do mundo podem ser interpretados de formas distintas. Por isso mesmo não é possível compreender um, sem depender da existência do outro.

Segundo o autor Edward Tylor(1871), cultura engloba todo o complexo que inclui conhecimentos,crenças,arte,moral,leis,costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro ativo de uma sociedade. Tal pensamento embora tenha sido formulado por Edward, já apresentava sua notoriedade desde os estudos de Jonh Locke em seu Ensai o acerca do Conhecimento Humano (1690)

O conceito de Tylor desprendeu-se completamente da conceituação de cultura
a patir de qualquer influência genética, provando sua forma de sobrevivência até os dias de hoje, quando se pensa em definição de "cultura". Este termo pode ser facilmente relacionado a grande parte das teorias antropológicas. Dentre estas podemos dar destaque ao estruturalismo.

Os estudos estruturais da antropologia iniciaram depois da  Segunda Grande Guerra e seu principal representante esteve presente na figura do antropológo belga, Claude Lévi- Strauss.
Claude tomou como base de análise os mitos das sociedades e inspirando-se na Linguística Estruturalista, defendia fortemente a existência de pares de oposição, que regiam o espírito humano, sendo postados como peças a mais em um conjuntos de diversas relações e não individualmente. Tais relações são capazes de suprir o que é essencial para que se forme a cultura na mente humana.

Lévi Strauss estudou os fenômenos culturais de várias famílias e tribos para chegar a tal ponto de vista. A realidade é fornecida pelas relações sociais e pela cultura individual de cada povo, que gera a visão do mundo
Strauss diz que:
" Se a nossa demonstração é válida não há nem pode haver uma civilização mundial no seu sentido absoluto,porque civilização implica na coexistência de culturas que oferecem o máximo de diversidade entre elas, consistindo mesmo nesta coexistência. A civilização mundial não será outra coisa que a coalizão de culturas em escala mundial, preservando cada uma delas a sua originalidade" (1961)

A antopologia estrutural pode ser compreendida, então, como uma tentativa de entedimento da história e do funcionamento da sociedade. Este entedimento provém da compreensão cultural.

Este conceito foi devidamente abordado no filme " A Balada de Narayama", película japonesa dirigida por Shohei Imamura. A trama narra o cotidiano de algumas pessoas que organizavam-se em aldeias ao norte do Japão, há mais de cem anos, mostrando as tradições e os conflitos humanos que cercavam aquele povo.

Devido as barreiras geográficas e á esterilidade do solo, a comida na região é escassa não sendo suficiente para um número maior de habitantes na aldeia, por isso a morte é encarada com tanta regularidade, já que faz parte da cultura deles a ideia de que uns precisam morrer para dar lugar aos outros.

A naturalidade da morte é identificada a partir do tema central da história. Ao completarem setenta anos, os idosos devem retirar-se da aldeia para aguardar pela morte sozinhos no monte Narayama, o qual acreditam ser habitado por deuses.

O filme mostra a trajetória de Orin, que embora possua uma boa sáude ( representada pelos seus 28 dentes), está próxima de completar setenta anos e assim, prepara-se para deixar a família na qual é a matriarca. Demonstrando desta vez o poder exercido pela cultura sobre as vidas. Essa preparação inclui arranjar uma nova mulher para seu filho mais velho. Esta, além de servir para suprir a ausência da mãe, serve também para representar a nova autoridade da família. Pois, por ser uma sociedade divida por gêneros, onde o homem tem a função de trabalhar na produção, a mulher por sua vez, responsabiliza-se pelas taferas domésticas e tem o poder de decisão.

Outro exemplo que mostra a naturalidade da morte e a importância da mulher está no fato de ao nascer uma nova criança, caso seja menino é jogado ao rio, porém se for menina, pode ser negociada e vendida. Isso mostra também que os pais nao criam laços afetivos com seus filhos recém-nascidos,pois matá-los ou vendê-los é uma alternativa de ter menos uma boca para alimentar.

Na comunidade, e união entre homem e mulher é vista maneira diferenciada da nossa, como o exemplo da viúva de outra aldeia que integra-se a família de Orin apenas por intermédio do vendedor de sal, e ao chegar, mesmo sendo uma estranha é bem acolhida e tratada como se fosse da família. A fidelidade e a honra feminina também são vistas de outra maneira, para eles, a mulher pode ser submetida a fazer sexo com todos da tribo como forma de redimir o marido de algum erro.

Após ter encontrado uma nova representação femina, Orin começa a passar-lhe seus ensinamentos, e por estar segura que vai ter alguém para substituí-la, a matriarca arranca seus próprios dentes, para sim, demonstrar-se mais debilitada. Demonstrando mais uma vez que os valores individuais não são levados em consideração, o coletivo acaba se sobressaindo.

Baseado na ideia que os valores de um povo alternam-se de acordo com suas necessidades, justifica-se toda a preocupação deles em relação á  comida
( plantação, colheita, estoque) e a pratica de atos bárbaros( na concepção da nossa sociedade) por conta do alimento. No filme, por exemplo, ao ser pega furtando alimento, a nora de Orin apanha severamente, mas o que realmente nos choca ao observá-los é ,quando são capazes de enterrar toda uma família ainda viva por causa do furto de comida.

O filme também causa uma reflexão a cerca das vontades pessoais e o confronto com as tradições de uma sociedade. É visível que o filho mais velho não quer desprender-se da mãe para deixá-la morrer sozinha, porém, para não quebrar a tradição ele deve passar por cima de suas próprias vontades. Outro caso que representa esse confronto é o do marido de Orin, por não querer separar-se de sua mãe e levá-la a Narayama, foi assassinado pelo seu próprio filho, acusado de romper com a tradição por estar frágil espiritualmente.

Concluída suas obrigações, é chegada a hora de Orin retira-se ao monte. A família faz uma espécie de ritual de despedida, onde não demonstram estar abalados com a saída da matriarca,

Ao chegar em Narayama e ao ver todos aqueles restos mortais, o primogênito pergunta-se se realmente há um deus esperando por aqueles que ali vão descansar. Ressalta-se assim uma dúvida presente em qualquer cultura, a qualquer época: a existência ou não de um ser superior e se há realmente um lugar para descansar após a morte. Mostrando que os indivíduos caminham de acordo com as regras impostas por sua sociedade, sendo elas benéficas ou não para o bem- estar próprio do homem.

Por essa e outras situações, é possível enquadrar "A Balada de Narayama" como uma verdadeira aula antropológica. O filme nos transporta a uma reflexão a respeito do homem como conceito antropológico; o homem complemente e predominantemente cultural. O homem cujas ações são regidas pela força cultural; aquela que é construída desde o seu nascimento até a sua morte.

REFERÊNCIAS

- Dicionário brasileiro Globo
-LARAIA, ROQUE DE BARROS- Cultura: um conceito antropológico-17ed- Rio de Janeiro,2004.
-Lévi-Strauss, Claude - "Antropologia Estrutural" (RJ, Tempo Brasileiro, 1970)

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Com a intenção de arquitetar uma teoria materialista da arte ou, como cita o estudioso W. Benjamin, um “trabalho de teoria estética”, em “A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica” o autor traz a discussão sobre a Modernidade capitalista e a Arte.

A partir de uma orientação teórica marxista e freudiana, Walter inicia a discussão com o aparecimento da reprodução técnica: os gregos aprimoraram a fundição e o relevo por pressão, logo reproduziam moedas, trabalhavam o bronze e o barro cozido. Com a gravura em madeira, pela primeira vez se reproduziram os desenhos, antes da imprensa proliferar a multiplicação da escrita.
A idade média conheceu a xilogravura (técnica de gravura na qual se utiliza madeira como matriz e possibilita a reprodução da imagem gravada sobre papel ou outro suporte adequado. È um processo muito parecido com um carimbo).

Em meiados do século XIX, a litografia (a base dessa técnica é o princípio da repulsão entre água e óleo. Ao contrário das outras técnicas da gravura, a Litografia é planográfica, ou seja, o desenho é feito através do acúmulo de gordura sobre a superfície da matriz, e não através de fendas e sulcos na matriz, como na xilogravura e na gravura em metal. Seu primeiro nome foi poliautografia significando a produção de múltiplas cópias de manuscritos e desenhos originais).

A arte gráfica definitivamente passou a retratar e ilustar o cotidiano, por isso se tornou íntima colaboradora da imprensa. Em poucas décadas, nasce a fotografia e a idéia da celeridade de captação da imagem, o olho que capta mais velozmente o cotidiano que a mão no desenho.

Walter Benjamin aponta para algumas questões importantes como a noção de autenticidade, o valor de culto e a unicidade na obra de arte. O “hic et nunc” do original forma o que chama de veracidade, a unicidade de sua presença no próprio ambiente onde ela se encontra.
No entanto, essa sentença  não tem sentido para uma reprodução, técnica ou não, pois esta noção escapa a toda reprodução, estabelece então diferenciações e níveis na própria autenticidade. Como afirma o autor:

 O que faz com que uma coisa seja autêntica é tudo o que ela contém de originariamente transmissível, desde sua duração material até seu poder de testemunho histórico. Como esse testemunho repousa sobre essa duração, no caso da produção em série, em que o primeiro elemento escapa aos homens, o segundo - o testemunho histórico da coisa - encontra-se igualmente atingido. Não em dose maior, por certo, mas o que é assim abalado é a própria autoria da coisa.

Dessa Forma, discute-se em que era da reprodutibilidade técnica a obra de arte é atingida em sua aura e esse processo como sintomarte a ultrapassa o domínio da arte. Sendo assim, a reprodutibilidade, com a retomada do sempre idêntico, contribui diretamente para a destruição do caráter único da autenticidade e da tradição.

No sistema que visa o capitalismo, a existência única é substituída por uma existência serial. Benjamin aponta o cinema como agente eficaz dessas contradições:
quando Abel Gance, em 1927, gritava com entusiasmo:“Shakespeare, Beethoven farão cinema [...]
Todas as lendas, todas as mitologias e todos os mitos, todos os fundadores de religiões e as próprias religiões... esperam ressurreição luminosa, e os heróis batem em nossas portas pedindo para entrar”, sem querer nos convidava para uma liquidação geral.

Percebe-se, em alguns trechos, o otimismo de Benjamin diante dos meios de comunicação de massa, principalmente um entusiasmo pelo cinema de massas e pela reprodutibilidade técnica, uma vez que esses podem cair no controle popular, demonstrando que aquilo que se produz coletivamente deve ser apropriado por um grupo ou pela própria comunidade.

No entanto o autor trabalha com imagens dialéticas, ao mesmo tempo em que olha para o cinema como uma experiência coletiva, com suas conseqüências sociais e políticas, também o entende diante da modernidade capitalista em que essa experiência dá lugar ao fenômeno pelo qual, numa sondagem, num inquérito. Um número crescente de indivíduos apresenta um número cada vez maior de características ou de combinações de características comuns, ou seja, massificação.

De acordo com Benjamin, instala-se uma queda da aura, que resulta de duas condições , ambas em correlação com o crescente papel desempenhado pelas massas na vida atual.
Encontram-se duas tendências de iguais forças nas próprias massas que por um lado exigiriam que as coisas se tornassem espacial e humanamente,“mais próximas”
( em nota explícita que as coisas “humanamente mais próximas” da massa não levam em conta sua função social, pois nada garante que um retratista contemporâneo, representando um célebre cirurgião almoçando, por exemplo, capte mais a função social, de que Rembrandt, no quadro lições de anatomia, que apresenta ao público de seu tempo médicos no exercício da mesma função.)
Por outro, tendem a acolher as reproduções, a exemplo de um jornal ilustrado que é muito mais que simples imagem.

Para Benjamin, esse declínio ocorre na modernidade por causa do desaparecimento das atividades favoráveis como simplesmente contar uma história e, dessa maneira, a ausência de transmissão da experiência coletiva por meio da tradição.

 No entanto, ao refletir a respeito da descontrução da aura nota-se, no autor, a carência e total inexistência do pessimismo característico dos frankfurtianos .
Ao contrário, analisa a perda da aura pelos aspectos negativos e positivos.

A aura define-se como “única aparição de uma realidade longínqua, por mais próxima que ela possa estar” . Sendo assim, o valor da unicidade “autêntica” se baseia no ritual que originariamente foi dado.
O papel desempenhado pelo conceito de autenticidade é dúbia: com a secularização da arte, torna-se substituto do valor cultural.

Essa argumentação faz surgir um novo fato: a emancipação da obra de arte da existência parasitária que lhe era imposta por sua função ritual. A exemplo do negativo em fotografia, que pode se tirar grande número de provas, seria absurdo perguntar qual seria a verdadeira.Portanto, desde que o critério de autenticidade não mais se aplica à produção artística, toda função de arte é subvertida, ela se funda agora não apenas no ritual, mas noutra forma da práxis: a política.

À medida que se emancipam, as obras de arte tornam-se mais acessíveis a serem expostas. Isso afeta também a qualidade da própria natureza da arte, pois seu valor expositivo lhe empresta funções novas de maneira que a função artística apareça como acessória. Como afirma Brecht, citado por Benjamin, “desde que a obra de arte se torna mercadoria, não mais se lhe pode aplicar a noção de obra de arte”.


No cinema, as próprias necessidades técnicas operatórias dissociam a representação do intérprete em série de episódios, posteriormente montados e fragmentados “como notava Pirandello, o intérprete cinematográfico sente-se estranho diante de sua própria imagem que lhe é apresentada pela câmera” (p.

Sendo assim, há a restrição do papel da aura e a construção artificial da “personalidade” do ator, ou seja, o culto da “estrela” a favor do capitalismo dos produtores. Ainda sugere que a técnica do cinema se assemelha ao esporte, em que os espectadores são semi-especialistas.
Não por acaso editores de jornal organizam provas apenas para seus jovens empregados e essas corridas provocam interesse entre seus participantes. O vencedor pode deixar de ser vendedor de jornal e se tornar corredor profissional. No cinema, qualquer pessoa que passe pela rua tem oportunidade de aparecer na tela.

O autor indica que a técnica de reprodução vista na arte, modificam a atitude da massa diante da mesma.
A partir do século XIX, diminui-se a significação social da arte e vê-se um distanciamento entre o espírito crítico e a fruição da obra. Sintoma de uma crise, na qual se frui sem criticar aquilo que é convencional e o verdadeiramente novo é criticado com repugnância. Graças ao cinema, revolucionariamente, pode-se reconhecer a identidade entre o artístico da fotografia e o científico, até então divergentes.
 Se for banal analisar o modo de andar dos homens, por outro lado nada se sabe de sua atitude na fração de segundo em que dá um passo, “pela primeira vez, ela (a câmera) nos abre a experiência de um inconsciente visual, assim como a psicanálise nos fornece a experiência do inconsciente instintivo”.

Uma das tarefas da arte, nos tempos de contemporaneidade, consistiu na demanda de um tempo ainda não maduro para satisfazê-la em plenitude.
 A cada nova exigência radical abrindo caminho para o futuro, ela ultrapassa seus propósitos. No caso dos dadaístas, davam pouca importância mercantil às obras e despojavam de maneira radical qualquer aura, pois impregnavam o estigma da reprodução.

Segue referindo que “a massa é a matriz de onde brota, atualmente, todo um conjunto de novas atitudes em face da obra de arte. A quantidade tornou-se qualidade". As massas buscam diversão. Mas a arte necessita do recolhimento. Quem se recolhe diante da obra de arte, por ela é envolvido. Como imagem dialética, o autor cita a história de um pintor chinês que, de acordo com a lenda, perdeu-se na paisagem que acabara de pintar.

Walter Benjamin finaliza o texto, discutindo a proletarização crescente do homem contemporâneo e as progressivas importâncias das massas que são aspectos de um mesmo processo histórico. O fascismo pretende organizar as massas sem alterar o regime de propriedade, propostas que estas tendem a rejeição, pois têm o direito de exigir transformações e o fascismo permite que se expressem, porém sem mudar o regime e resultando numa estetização da vida política. Essa violência imposta de culto a um chefe, assemelha-se a de uma aparelhagem colocada a serviço da religião.


 O ponto convergente dessa estetização é a guerra e sua glorificação por paralisar as forças produtivas.
Fiat ars, pereat mundus: é essa a palavra de ordem do fascismo que, como Marinetti o reconhece, espera obter na guerra a satisfação artística de uma percepção sensível modificada pela técnica.

Reside aí, evidentemente, a perfeita realização da arte pela arte. Na época de Homero, a humanidade se oferecia em espetáculo aos deuses do Olimpo; ela agora se converteu no próprio espetáculo. Tornou-se tão alienada se si mesma que consegue viver sua própria destruição como um prazer estético de primeira ordem. A resposta do comunismo é politizar a arte.

Sem dúvida alguma, este continua sendo um estudo recheado de contemporaneidade, importante e passível de muitas interpretações. Walter é sem dúvida um grande autor moderno e nos aproxima de suas reflexões sobre uma teoria materialista da arte e a discussão de cultura de massa na modernidade capitalista. Abordando de maneira um pouco mais aprofundada a problemática que se segue em questão.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Piano

"Tecla branca, tecla preta,pés e principalmente mãos.
Som após som, desvirtuando a idade, adentrando os sonhos e afagando os medos.
Tocava como se não existisse platéia, era seu refúgio e sua cólera.
Cantava silenciosamente o mundo que desabava de euforia, esperando o que não se evita. Morria todos os dias, esperando um milagre."

Espera

Cansei de palavras tortas, amores ausentes, cigarros pela metade e ainda me sinto tão jovem e impaciente. O receio de passar e não deixar meu tanto é o que alimenta o desespero de agir. Vou deitar, me acorde quando a dor for embora.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

mentira boa

"Me engole, traga e rouba. Me prega as maiores peças e quando me derruba com um golpe, chão.
Mão estendida novamente, asas. Não há desperdicio, o tempo é quem vive me perdendo."

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Quem é esse no espelho?

"Eu não sentia nada, um dono procurando por uma palavra sem tradução. Uma conversa unilateral, um monológo de mentiras, um conformismo desesperado.
Pensava que entendia cada gesto, mas não era capaz de corresponder, minha mente me traía.
Olhos silenciosos gritam em um sinfonico Blues."

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Solidão

"Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo...
Isto é Carência!!!
Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não vão mais voltar...
Isto é Saudade!!!
Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes, para realinhar os pensamentos...
Isto é Equilíbrio!!!
Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe, compulsoriamente, para que revejamos as nossas vidas...
Isto é um Princípio da Natureza!!!
Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado...
Isto é Circunstância!!!
Solidão é muito mais que isto... solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e
procuramos em vão, por nossa alma..."
(Chico Buarque)

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Correntes

"E o frio que envolvia meus dias quentes, desapareceu.
A luneta que espiava o envelhecer de um coração valente, deixou de assistir o tempo e subiu até o mais alto dos telhados e de braços abertos se entregou novamente ao vento."